Agora gostei de ver! Quem é esta mulher sentada?

Princesa Therese von Bayern em viagem com seus colegas

— Fomos bem para a frente no tempo. Estamos em 1888.
    Esta é a princesa Therese von Bayern. Ela nasceu em 1850 em Munique, foi educada por sua mãe, algo pouco comum para a época. Como ela não podia estudar na universidade por ser mulher, aprendeu tudo sozinha, lia em livros. Sabe quantos idiomas ela falava?

Trajeto percorrido por Therese von Bayern em 1888

— Quantos?

— Doze, Irani! Ela falava doze idiomas. Essa mulher, aos 21 anos, fez expedições pela África e pela Europa. Depois, em 1888, fez uma expedição para a Amazônia. Ela queria conhecer pessoalmente os trópicos, conhecer os indígenas, coletar plantas e animais, enfim, fazer o que qualquer outro naturalista fazia. Tudo com muito esmero.

— Mas essa é uma foto dela, não é? Ela tinha uma máquina fotográfica?

— Ela adorava fotos! Inclusive, sempre levava uma máquina fotográfica consigo. Viajou por Belém do Pará, subiu o Amazonas de barco a vapor em Manaus, depois realizou expedições nos rios Negro e Solimões. Visitou os povos indígenas Mawé, Munduruku e Mura. Chegou a ir para o Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

— Uau, que impressionante!

— Mantinha um caderno de anotações. Com todo o material reunido, em 1897, consegue publicar um livro: Minha viagem aos trópicos brasileiros.
    Você acredita que ela teve que usar um pseudônimo? Assinava “Th. von Bayer” para conseguir ser levada a sério.
    Mulheres sofriam preconceitos maiores que hoje: em muitos países, por exemplo, não podiam viajar sozinhas sem a anuência do marido. Deviam se limitar a cuidar da própria casa e criar os filhos (se fizessem algo diferente disso, podiam ter problemas). Como a educação também era bastante limitada, era dificílimo uma mulher conseguir ser uma intelectual. Veja que, mesmo sendo nobre, a vida da Therese teve muitos desafios. 

— Gostei muito de conhecer essa princesa.
    Queria mais histórias de princesas assim!
    Mas ela era uma
aristocrata, Arabella.
    Havia outras mulheres viajantes?

Jawohl! Sim. Vamos conhecer muitas mulheres extraordinárias.

Objetos etnográficos de Therese von Bayern

Em 1897, Therese von Bayern foi homenageada e teve seu trabalho reconhecido: o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Munique, sendo a primeira mulher a receber tal honraria.

A maioria do material que coletou está até hoje no Museu Cinco Continentes, em Munique, uma coleção de 2.500 peças etnográficas.

Fotografia em família de Therese na sua infância, com os pais e os três irmãos, 1860. [Imagem retirada do livro: BUßMANN, Hadumod. Die Prinzessin und ihr »Kavalier«. München: Allitera Verlag, 2013.]

Confira um trecho da obra de Therese:

“Comecei a minha viagem para o Brasil acompanhada de uma senhora, um cavalheiro que me prestava serviço e um empregado especializado no trabalho de taxidermia. O objetivo da minha viagem foi conhecer os trópicos, dentro do possível fazer contato com grupos indígenas e coletar plantas, animais e objetos etnográficos. Como resultado desta viagem entre outras coisas está a descoberta de alguns novos gêneros e variedades de animais e plantas e o registro da identificação de alguns novos sítios e localidades.
O propósito inicial foi dar contribuições complementares à geografia zoológica e botânica, porém logo decidi por analisar melhor os materiais coletados na viagem, já pensando na sua divulgação. Enquanto me ocupava com este trabalho aconteceu a grande reviravolta política brasileira, e logo a família real do país foi definitivamente deposta. Desta forma, o que vi e vivenciei na corte no Brasil passou a pertencer a uma época histórica já finda, e muito daquilo ganhou mais importância pelo simples fato de doravante não mais poder ser observado. Isto fez com que concentrasse meu trabalho nesta parte das pesquisas reunidas na minha viagem e que inicialmente não tinham sido destinadas ao público, para que pudesse inseri-las nas descrições do percurso. […]”

Trecho extraído: BAYERN, Therese von. Meine Reise in den brasilianischen Tropen. Berlin: Dietrich Reimer, 1897.

Em uma das suas viagens, Therese relatou em seu diário as dificuldades enfrentadas:

“[…] quando conheci uma árvore que tinha seiva leitosa e estava coberta por espinhos. Encostei-me ao tronco sem uma pista e os espinhos penetraram dolorosamente nas minhas costas. Claro que eu queria saber o nome da árvore e Frank disse que ela se chamava ‘Ai, Diabo’, porque as pessoas que eram como eu costumavam cumprimentá-la com esse chamado.. Eu entendi bem isto.”

Trecho extraído do livro: BUSSMANN, Hadumod. Die Prinzessin und ihr »Kavalier«. München: Allitera Verlag, 2013.