Santa Casa de Misericórdia no Rio de Janeiro, onde atuou Robert Avé-Lallemant, fotografia de Marc Ferrez, 1904

Quanta coisa, Arabella!  Estou impressionada com esses alemães viajantes!  Você não se lembra de mais ninguém?

Príncipe Adalbert da Prússia e seu livro

— Claro que há mais gente! Só não ficaram conhecidos por viagens tão extensas. Geralmente eram pesquisadores e viajantes naturalistas. Outros eram emigrantes, deixavam a Alemanha para tentar a sorte em outro lugar. Ainda havia quem viesse por motivos de trabalho. Você quer conhecer algum?

— Sim, por favor!

— Há um príncipe viajante famoso. O príncipe Adalbert da Prússia, já ouviu falar dele? Ele leu muito as histórias de Humboldt, Spix, Martius e Langsdorff, tinha desejo de conhecer os trópicos. Daí queria vir conhecer uma região menos explorada por europeus. Escolheu vir à região do rio Xingu por seis semanas. Publicou Do meu Diário 1842-1843. Gravuristas fizeram telas para ilustrar a obra. Esse livro ajudou depois Karl von den Steinen e Paul Ehrenreich, pois fala das populações indígenas.

— Há mais gente da nobreza que viajava assim?

— Sim, viajantes aristocratas são, por exemplo, Ignaz von Olfers e Adelbert von Chamisso. Alexander von Humboldt fez amizade com essas pessoas e apoiava suas viagens.

— Ah, com certeza! O Humboldt sempre quer que alguém faça a própria viagem… e quem veio para trabalhar aqui?

— Havia muita gente. Um caso foi Robert Avé-Lallemant. Veio como médico para o Rio de Janeiro em 1836 e gerenciou o hospital Nossa Senhora da Saúde. Trabalhou com doentes de febre amarela e fez parte do Conselho de Saúde do Império. Chegou a voltar para a Alemanha, mas, a convite do Humboldt, participou da expedição Novara, em 1857. No Brasil, com apoio do governo imperial, fez sozinho uma expedição ao sul do país. Visitou as colônias alemãs no Rio Grande do Sul, fazendo uma análise crítica da migração e defendendo a colonização no Sudeste. Depois, visitou assentamentos de alemães na Bahia e no rio Mucuri. Descreveu a miséria dos imigrantes e fez denúncias sobre a qualidade de vida. Publicou Viagem pelo sul do Brasil (1858) e Viagem pelo norte do Brasil (1859).

Robert Avé-Lallemant (1812-1884)

 Colônia Dona Francisca, atual Joinville

O Príncipe Adalbert da Prússia (1811-1873) faz parte de um grupo de viajantes alemães aristocráticos do século XIX que viajava com o intuito de aventura. Foi o primeiro europeu de origem real a fazer uma viagem ao rio Amazonas.

Olfers

Ignaz von Olfers (1793-1871), diplomata e naturalista, visitou o Brasil duas vezes. Mais tarde, tornou-se diretor do Museu Imperial de Berlim pela indicação dos irmãos Wilhelm e Alexander von Humboldt.

Ignaz von Olfers, 1830. Franz Krüger. [Wikimedia Commons].

Chamisso

Adelbert von Chamisso (1781-1838), poeta e naturalista alemão de origem francesa. Por indicação de Alexander von Humboldt, virou membro da Academia de Ciências da Prússia.

Adalbert von Chamisso. [Wikipédia].

Novara

A expedição austríaca chamada Novara teve por objetivo velejar pelo mundo entre 1857 e 1859, por iniciativa da marinha Austro-Húngara. A expedição ficou famosa pela publicação dos seus relatos em vários idiomas diferentes.

Cartão-postal de D. Francisca:

Em sua obra Viagem pelo sul do Brasil, Robert Avé-Lallemant (1812-1884) tece muitos elogios à colônia de Dona Francisca (Joinville):

“Quando vejo diante de mim esses homens de boa educação, que nem desistem de emigrar da Alemanha nem muito menos quando estão desorientados no Brasil, querem ser devolvidos à pátria que acabam de deixar e tenho de dar-lhes um conselho sobre a escolha de sua futura residência, eu, categoricamente, lhes aconselho Dona Francisca, lugar onde, como em outras colônias, encontrarão a subsistência material e, além disso, uma vida decente e bem ordenada como em nenhuma outra das colônias alemãs que visitei. Eu, pelo menos, se um erro ou a necessidade me obrigassem a viver com minha família numa colônia alemã, preferiria Dona Francisca a qualquer outra.”

AVÉ-LALLEMANT, Robert. Viagem pelo sul do Brasil no ano de 1858. Segunda parte. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1953, p. 204.