Nosso amigo Theo Koch, ou Theodor Koch-Grünberg, levantou muitas lendas e histórias da região Amazônica.
— Como ele fez isso? Que legal!
Essa também é uma linda expedição.
Ilustração sobre o cipó que a Lua usou para chegar no céu
Mayüluaípu conta lendas indígenas para Koch-Grünberg
— Fazia trabalho de campo e descobriu que muitos dos povos do Amazonas são multiculturais: falam várias línguas diferentes. Por exemplo, no rio Negro, viu que era comum um homem casar com uma mulher de outra tribo, ou seja, com outro idioma e outra cultura.
Quando visitou a aldeia Koimélemong, ficou hospedado ali algumas semanas em 1911.
Achou tudo muito bonito. Teve o privilégio de escutar histórias de Möseuaípu, um xamã da tribo Arekuná, e de Mayüluaípu, da tribo Taulipáng.
As lendas foram reunidas na obra Do Roraima ao Orinoco (vol. 2). É uma das obras mais importantes da mitologia sul-americana até hoje! Descreve espíritos, demônios e as conversas dos mortos. Explica o entendimento da alma, do além e dos seres mágicos… Sabia que Mário de Andrade usou essas histórias para criar o seu Macunaíma, o herói sem nenhum caráter? E também Alfred Döblin ao escrever a trilogia Amazonas.
— Que impressionante.
Me conte uma história dessas, Arabella?
Koch-Grünberg também inovou na forma de documentar a vida indígena. Usou equipamentos modernos para 1911-1913: uma câmera fotográfica, um cinematógrafo (gravador, copiadora e projetor em um só) e um fonógrafo (para gravação e reprodução de som). A maioria das gravações foi feita na aldeia Koimélemong.
Além dos registros de som, há um filme de 1911, gravado por Theodor Koch-Grünberg e editado somente nos anos 1960, por Otto Zerries. As primeiras gravações infelizmente não existem mais, embora sejam o primeiro documento cinematográfico sobre culturas indígenas da América do Sul.
— Claro! Você sabe como a Lua chegou no céu?
Foi com um cipó como este! No começo dos tempos, Kapéi (a Lua) não morava no céu, mas na terra.
Depois de esconder a alma de uma criança, a Lua foi expulsa de sua casa por um feiticeiro. Pensando para onde poderia ir, a Lua decide ir para o céu com suas duas filhas. Usando um cipó como escada, subiram até as alturas e ficaram no céu para dar luz aos irmãos na terra.
— Sim, a Lua ficou lá em cima, que bonito!
O xamã Möseuaípu, da tribo Arekuná, contador de histórias
O professor de Literatura da USP José Miguel Wisnik explica no programa “Café Filosófico” como surgiu em Mario de Andrade a ideia de escrever a obra Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. Wisnik fala da influência que o antropólogo alemão representou na obra de Mario de Andrade, além dos mitos dos grupos indígenas Arekuná e Taulipáng.
O livro Do Roraima ao Orinoco trata dos relatos da viagem empreendida por Theodor Koch-Grünberg pela região Norte do Brasil e pela Venezuela durante o período de 1911 a 1913. Publicada pela Unesp, a obra traz reproduções de fotografias originais do etnólogo que foram reveladas e ampliadas em plena viagem.
“Este primeiro volume traz uma descrição da viagem; são, em larga medida, páginas de diário anotadas aleatoriamente, sob impressão imediata, no calor da hora e no lugar dos acontecimentos.
O segundo volume, já publicado, contém mitos e lendas dos índios Taulipáng e Arekuná, tribos da região do monte Roraima pertencentes à grande família Karíb.
O terceiro volume tratará, por meio de palavras e ilustrações, da cultura material e espiritual de diferentes tribos. Um apêndice traz melodias, cantos e composições indígenas, que foram gravados em fonogramas.
No quarto volume estão registrados os dados linguísticos, textos com tradução interlinear e listas de palavras de 23 línguas e dialetos, seis dos quais eram, até então, completamente desconhecidos.
O quinto volume, um atlas biotipológico, traz 180 pranchas de tipos e grupos antropológicos.”
KOCH-GRÜNBERG, Theodor. Do Roraima ao Orinoco. Tradução: Cristina Alberts-Franco. São Paulo: Editora Unesp, 2006. V. 1.
Os cincos volumes, em alemão, estão disponíveis no site da Biblioteca Brasiliana:
Além das gravações, Koch-Grünberg publicou, em 1905, uma obra sobre desenhos manuais dos indígenas, Começos de arte na selva, publicada em português, em 2009, pela Editora da Universidade Federal do Amazonas.
Michael Kraus destaca na introdução:
“[…] o livro de Koch-Grünberg oferece-nos não somente aspectos da cultura indígena, mas também da cultura científica daquele tempo – é, como qualquer monografia etnológica, um espelho e às vezes uma caricatura de dois mundos.”