O que é isso? Onde foram parar minhas roupas?
— Shiu! Fale baixo! Aquele ali
é o príncipe Wied-Neuwied.
— O de casaco azul e cartola?
Wied-Neuwied? Que nome engraçado!
— Sim, Maximilian Alexander Philipp zu Wied-Neuwied! Nasceu em 1782 na região do Reno. Ele estudou em Göttingen e por lá encontrou o Alexander von Humboldt. O príncipe veio para o Brasil em 1815, depois de uma viagem de 72 dias de navio.
— No século XXI é bem mais fácil viajar. O Humboldt está sempre metido nisso, não?
Wied-Neuwied e Quäck caçando na selva brasileira
Desenhos de uma cobra e de um sapo, de Wied-Neuwied
Paisagem com indígena caçando, de Wied-Neuwied, 1816
— Sim, Humboldt vai ser uma referência constante em nossa viagem no tempo. O príncipe Wied-Neuwied chegou aqui e encontrou o barão de Langsdorff, cônsul da Rússia no Brasil, dono da Fazenda da Mandioca, que hospedava viajantes de outros países europeus. Langsdorff criou uma espécie de centro científico no Brasil e incentivou o príncipe a fazer viagens pelo Espírito Santo, por Minas Gerais e pelo Rio de Janeiro, e ele inclusive chegou até Salvador, na Bahia.
Foi na casa do barão de Langsdorff que o príncipe Wied-Neuwied encontrou dois outros pesquisadores que se juntaram a expedições: Georg Wilhelm Freyreiss e o botânico Friedrich Sellow. O primeiro, colecionador de animais, caçava aves e até jacarés, percorreu locais ainda não conhecidos por europeus.
— E quem é aquele? Um indígena com roupas europeias?
— Aquele ali é o jovem Quäck. Foi comprado de um chefe de tribo aos nove anos. Acompanhou o príncipe Wied-Neuwied durante dois anos. É importante lembrar que guias nativos são fundamentais em expedições. Provavelmente o garoto auxiliou muito na comunicação, em contatos iniciais, na compreensão de rotas e melhores caminhos. Quäck depois foi levado à Alemanha. Viveu até os 34 anos.
— Impressionante. Queria saber um pouco mais sobre os indígenas…
Vamos ver! Wied-Neuwied escreveu bastante sobre um grupo indígena muito interessante.
Georg Freyreiss (1789-1825) foi um naturalista alemão que viajou pelo Brasil coletando aves e plantas. Chegou no ano de 1813 a pedido de Langsdorff, com quem trabalhou inicialmente na região de Minas Gerais.
Freyreiss foi professor de zoologia na Universidade do Rio de Janeiro e, posteriormente, estabeleceu uma colônia alemã na Bahia, onde faleceu. Em sua obra Viagem ao interior do Brasil, Georg relata suas aventuras e descobertas durante as expedições realizadas por ele e seus colegas.
Paisagem baiana, por Friedrich Paul Sellow – [Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 3, nº 28, janeiro 2008.]
Friedrich Sellow (1789-1831) foi um importante botânico, colecionador de plantas e naturalista alemão, sendo um dos primeiros pesquisadores científicos da flora brasileira. Sellow aceitou o convite do Barão de Langsdorff para participar de suas explorações científicas no Brasil, embarcando para a cidade do Rio de Janeiro em 1814. Fez diversas viagens pelo território brasileiro, percorrendo regiões entre os estados do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais, além de visitar o Uruguai.
Em 1831, uma tragédia acometeu Sellow, que se afogou ao cruzar de canoa o rio Doce, na região de Minas Gerais, falecendo aos 42 anos e deixando um importante legado para os estudos científicos do século XIX.
Pintura de Quäck. [CUNHA, Manuela Carneiro da (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura e Fapesp, 1992.
Quäck foi um jovem indígena Botocudo que participou da expedição do Príncipe Wied-Neuwied no Brasil, auxiliando-o como guia e tradutor durante sua estadia no país. Quäck foi levado para Alemanha em 1818, onde passou o resto de sua vida. Ele foi estudado por etnógrafos e professores europeus durante sua estadia, mas a adaptação não foi positiva para o jovem indígena, que faleceu em 1832 no palácio do príncipe, possivelmente em decorrência de problemas com o alcoolismo.