Botocudos nadando, de Wied-Neuwied
Veja, Irani, indígenas nadando!
— Que cena incrível! Quem são eles?
— São os Botocudos! No século XIX, eles foram encontrados várias vezes por viajantes, sendo um povo indígena importante. Viviam entre o rio Pardo do Norte, o rio Belmonte e o rio Doce. Spix e Martius diziam que eram “seres humanos de um nível bastante inferior do que todos os outros, sem cultura, de hábitos rudes e até sub-humanos”, foi o príncipe Wied-Neuwied quem detalhou bem os botocudos: disse que eram um povo de estatura física mais alta e forte e com costumes bem-definidos.
— Parecem tão tranquilos nadando.
— Quando não são importunados, sim. Nos séculos XVI e XVII, com a expansão portuguesa, mostraram-se guerreiros desafiadores. Com astúcia e tática, enfrentaram colonizadores e militares da corte em lutas sangrentas. Utilizavam arcos e flechas feitos de cipós e troncos de palmeiras, decorados com plumas de araras (ai, minha pobre cauda!). As penas fazem com que as flechas sigam na direção certa. Guerrearam até o início do século XX. Ainda tinham a vantagem de conhecerem caminhos escondidos na Mata Atlântica.
— Puxa, por isso é tão difícil saber sobre meus antepassados. Imagina se minha trisavó era uma Botocuda? Ninguém escreveu sobre eles?
Quatro Botocudos e uma cabeça mumificada, de Wied-Neuwied
Quäck caça uma borboleta, de Wied-Neuwied
Meninos Botocudos. Vale do Rio Doce, 1909. Foto de Walter Garbe
“Em sua acepção original, ‘antropofagia’ designa as práticas sacrificiais, comuns em algumas sociedades indígenas do Brasil, que consistiam na ingestão da carne dos inimigos aprisionados em combate, com o objetivo de apoderar-se de sua força e de suas energias.” (Ana de Oliveira, 2000, tropicalia.com.br)
— Ja klar. Sim, claro! O príncipe Wied-Neuwied documentou seus hábitos. Por exemplo, que sua principal atividade era a caça e a procura por plantas e frutas. Ficou impressionado com sua habilidade para construir ferramentas com materiais naturais.
Segundo Wied-Neuwied, em caso de luta de vida ou morte, os Botocudos devoram os inimigos para mostrar superioridade com a prática de antropofagia.
Wied-Neuwied ainda conta que muitos grupos de Botocudos tinham contato recorrente com europeus e compreendiam o português. Mas havia certa tensão no ar nesses encontros.
— Posso imaginar mesmo. Eu não ia querer estar nadando e ver estranhos chegando. E quem era mesmo aquele cara que batizou teu nome científico?
Spix! Vamos viajar até ele agora mesmo!
Maximilian zu Wied-Neuwied viajou ainda aos Estados Unidos, onde pesquisou as populações indígenas do interior entre 1832 e 1834. Faleceu em 1867. Os espécimes coletados em suas viagens encontram-se em museus na Alemanha, na Bélgica e nos Estados Unidos. Wied-Neuwied publicou os resultados da expedição no livro Viagem ao Brasil, Reise nach Brasilien in den Jahren 1815-1817.
Conheça um pouco mais sobre o importante grupo indígena dos Botocudos:
“Os Botocudos, como são mais popularmente conhecidos, pertencem ao tronco linguístico Macro-Jê, sendo caçadores e coletores seminômades, com uma organização social que se caracterizava pelo constante fracionamento do grupo, pela divisão natural do trabalho e por um sistema religioso centrado na figura dos espíritos encantados dos mortos (os Nanitiong).
A sua organização económica baseava-se na caça e pesca — atividades tipicamente masculinas — e na coleta, exercida pelas mulheres. Com a sedentarização forçada pelos administradores, foi-lhes imposta a agricultura: os homens faziam a derrubada, preparavam a terra e plantavam, atividade esta dividida com as mulheres, que se responsabilizavam pela colheita.
A caça era a atividade mais importante na vida económica do grupo, sendo considerados hábeis caçadores. Os territórios de caça e coleta tinham seus limites definidos pelo chefe do grupo. Sérios atritos decorriam da invasão desses territórios por outro grupo.”
[PARAÍSO, Maria Hilda B. Os Botocudos e sua trajetória histórica. In: CUNHA, Manuela Carneiro da (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura e Fapesp, 1992.]
Combate singular dos Botocudos, gravura em metal, original, desenhada por Vander-Burch e gravada por Gabriel de Montaut, 1838. [Acervo Biblioteca Nacional – Brasil].
Mapa de Arrowsmith, usado por Wied-Neuwid em sua expedição pelo Brasil entre 1815 e 1817. [Acervo viaLibri – Antique Sommer & Sapunaru KG].