Maria Sibylla Merian (1647-1717)
Ida Pfeiffer (1797-1858)
Aqui estão três exemplos de mulheres viajantes de épocas diferentes: a artista e cientista Maria Sibylla Merian; a escritora
e exploradora Ida Pfeiffer;
a educadora Ina von Binzer.
No século XIX, ainda era muito difícil para uma mulher sair sozinha pelo mundo. O papel principal delas era cuidar de questões domésticas e familiares, ou seja, a maioria das tarefas era ligada a permanecer em casa. Viajar era algo exótico e relacionado ao perigo.
Quando viajavam, podia ser para acompanhar o marido ou, mais raramente, a trabalho ou envolvidas em missões artísticas e de caráter científico. Assim como os homens, eram movidas pela vontade de conhecer as belezas de outros lugares. Sorte a nossa que deixaram muitos livros e pesquisas incríveis!
— Elas deixaram livros também? Puxa, não lembrei de procurar por esses livros na nossa ida à biblioteca.
— Sehr viele Bücher! Muitos livros e ainda variados.
A pioneira é a Maria Sibylla Merian. Artista e cientista, nascida na Suíça em 1647. Viajou pela América do Sul. Juntando suas duas habilidades, fez ilustrações primorosas de insetos, plantas e outros seres, retratando metamorfoses e ciclos de vida.
O segundo retrato é da Ida Pfeiffer, austríaca. Em 1842, depois de ter criado os seus filhos e se separado do marido, resolveu realizar o seu sonho: viajar pelo mundo!
— Ah, eu acho um ótimo plano de vida esse da Ida Pfeiffer.
— Bom, ela viajou muito e também escreveu sobre suas viagens, com dicas e detalhes de cada cidade, semelhante ao guia Lonely Planet de hoje. Esteve no Brasil em 1846. Fazia comentários com um senso de superioridade europeia, exprimindo preconceitos contra populações indígenas e negras.
De qualquer forma, por quinze anos fez viagens e publicou muitos livros, abrindo espaço para outras mulheres viajantes e escritoras. Alexander von Humboldt apoiou a associação honorária de Ida Pfeiffer à Sociedade de Etnografia de Berlim, sendo a primeira mulher a receber tal honra.
— Ah, sempre o Humboldt incentivando viajantes. E este último retrato? Da Ina von Binzer? É uma fotografia, não?
— Ganz genau, exatamente. É uma fotografia, pois a Ina von Binzer é a mais recente das três.
Ela veio a trabalho, foi contratada para dar aulas aos filhos dos fazendeiros do Rio de Janeiro e de São Paulo, em 1881. Ela pôde conhecer relações familiares e de trabalho por dentro, sendo uma testemunha dos últimos anos da escravidão no país e do que aconteceu depois com a população negra.
Irani, você precisa ler o livro dela!
O título é Os meus romanos: alegrias e tristezas de uma educadora alemã no Brasil. São cartas enviadas para sua amiga Grete. Uma fonte histórica sobre o cotidiano brasileiro no final do século XIX.
— Estou anotando aqui, Arabella! Vou ler nas férias.
Sabe o que eu gostaria de ver? Fotografias antigas.
Já falamos de pintura e de desenho.
Agora, será que você pode me mostrar fotos?
Ja klar! Sim, claro! Vamos ver fotógrafos do século XIX.
Outras mulheres de língua alemã notáveis por serem expedicionárias ou viajantes em terras brasileiras:
• Julie Engell-Günther, professora;
• Luise Schenck, escritora e educadora;
• Therese Stutzer, romancista que viveu alguns anos em Blumenau;
• Emilie Snethlage, ornitóloga e diretora do Museu Emílio Goeldi, em Belém, no início do século XX.
Ina von Binzer (1856-1929)
Capa do romance de Ina von Binzer, Os meus romanos: alegrias e tristezas de uma educadora alemã no Brasil
Maria Sibylla Merian (1647-1717), artista e cientista, foi uma grande ilustradora de História Natural e Botânica. Além disso, foi uma das primeiras artistas a registrar o processo de metamorfose: “Recolhi todas as lagartas que pude encontrar para ver como elas mudavam”. Atualmente, vários quadros da artista estão em exposição em coleções acadêmicas de São Petersburgo, Rússia.
Confira um resumo de sua obra e vida: https://www.botanicalartandartists.com/about-maria-sibylla-merian.html
Julie Engell-Günther (1819-1910) nasceu na cidade de Sülze/Mecklenburgo, Alemanha. Julie embarcou com outros intelectuais que, desiludidos com os rumos da política alemã, optaram pela emigração com destino à Austrália. Na primeira parada do navio para abastecimento no Brasil, ela resolve abandonar a viagem e permanecer no país. Por indicação do médico alemão Dr. Robert Avé-Lallemant, Julie consegue um emprego como professora em um colégio de meninas. Em um de seus textos, descreve essa experiência em trópicos brasileiros:
“[…] ninguém é capaz de descrever o Brasil da forma que eu aprendi a fazê-lo após dez anos de permanência nesse país, pois tenho certeza de que todos aqueles turistas e comerciantes que por lá passaram não o conheceram como eu o conheci, que tive que ganhar o meu pão naquelas paragens. Além disso, eu o vi com o coração, não me deixei iludir e enganar por adulações, como costuma acontecer com tantos homens sabidos.”
Trecho extraído da minuta da conferência que a professora Schöck-Quinteros proferiria durante um evento (6 e 7 de junho de 2003) em homenagem ao aniversário de 60 anos de Dirk Hoerder.
[Correspondência entre a profa. Eva Schöck-Quinteros da Universidade de Bremen e o sr. Joachim Tiemann do Instituto Martius-Staden, trocada entre 15/11/2002 e 25/09/2003, arquivada na Pasta G IV b como Doc. nº 336 deste mesmo Instituto.]
Confira mais sobre a vida e obra da professora Julie Engell-Günther no projeto RELLIBRA:
http://www.martiusstaden.org.br/conteudo/detalhe/116/julia-engell-gunther-1819-1910
Snethlage na varanda do Museu Nacional no Rio de Janeiro, 1926. [Arquivo Guilherme de La Penha/MPEG].
A naturalista alemã Emília Snethlage (1868-1929) foi contratada como assistente de zoologia em junho de 1905 pelo Museu Paraense Emílio Goeldi. Trabalhou no Brasil entre 1905 e 1929, sendo bastante conhecida por seu trabalho com a flora e a fauna da região amazônica, dando grande ênfase para o trabalho de campo ao liderar diversas expedições científicas. O seu grande trabalho de destaque foi o Catálogo de aves amazônicas, publicado em 1914, que tentou reunir todas as espécies de aves da região.
O seu legado científico compõe os acervos ornitológicos do Museu Paraense Emílio Goeldi e do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, que, em 2018, foi atingido por um incêndio.
JUNGHANS, Miriam Elvira. Avis rara: a trajetória da naturalista alemã Emília Snethlage (1868-1929) no Brasil. Rio de Janeiro: s.n., 2009.